domingo, 20 de maio de 2012

[Pessimismo] Um ensaio sobre depressão e felicidade


À beira do abismo.

Imagine-se preso dentro de si; só, sem saber para onde ir. Os caminhos prostram-se, mas você não quer escolher nenhum, porque sabe que não tem sentido seguir. Sua visão é embaçada pelo desespero e deturpada pela melancolia. Nada mais faz sentido. Tudo o que você quer fazer é gritar, correr a esmo e sumir em qualquer lugar que não seja aqui. Mas não consegue. O mundo é um labirinto caótico que o prende dentro dele. E cada vez que você parece encontrar uma saída, ela é a entrada de um novo labirinto mais obscuro que o anterior.

Você DEVE lutar; só pode lutar. A vida é inexorável e transpassa com o tempo sem se importar com sua existência. Então você é obrigado a vivê-la. Não existe escolha: nunca existiu. Você sempre precisou desbravar a vida, porque ninguém nunca lhe informou se havia outra maneira. Então, mesmo cambaleante, você anda pelo negrume que é cada dia em seus olhos. Age normalmente – sorrisos vivos por fora, carne morta por dentro. Porém, chora cada grito que não conseguiu expelir, cada rua da qual não conseguiu fugir, cada sorriso que teve de dar e cada passo que não pode evitar.

Alcunhar-lhe-ão, caso ainda não, de nomes indesejáveis. Poucos o compreenderão ou darão importância ao que se passa dentro de você. Porque eles provavelmente estarão mais preocupados consigo mesmos (mas quem não está?). E caso reparem em sua dor, transpassada pelos seus olhos desalentos, será apenas para repreender-lhe. E você suportará cada uma dessas alcunhas por um tempo.

Não obstante, a paciência em você é um balde furado. Esvai-se vagarosamente até que não sobre nada. E nesse momento o mais simples sorriso lhe causará ódio ou inveja – senão vergonha por rirem de você. O ato mais altruísta lhe soará desconfiável. O mundo será a barreira entre você e a felicidade, porque se não há felicidade no mundo, há depois dele. Logo chega a hora de romper com a vida. Você ergue dedos imaginários, indicador colado em indicador, e os corta num ritual infante já conhecido. A vida não é mais sua companheira: é sua inimiga.

Muitos se identificarão com as palavras acima. Outros acharão que é coisa de “emo” ou “gay”. Alguns ficarão estupefatos em ler tamanha baboseira. Mas para aqueles que sofrem de depressão essa descrição acima é um pedaço minúsculo do sofrimento que eles têm que passar dia após dia, muitas vezes sorrindo por falta de opção.
Depressão não é moda, não é cultura, não é um estado passageiro de humor, não diz que tipo de música ou roupas você gosta e veste. Depressão é uma doença, e uma doença grave!

Uma pessoa com depressão é alguém que se desata da vida. Tudo perde sentido, porque não tem mais nada que cinja os remendos da vida inocente de outrora. Às vezes, os pequenos atos da vida pueril aconteceram muito rápido, e não estávamos preparados para eles. Ou então um evento repentino e desolador abalou as estruturas antes que pudéssemos maquiná-los. Assim, guardamos cada uma das emoções ruins do passado, sem saber como extravasá-las e esquecê-las/superá-las; até que se acumulem e explodam. Antes que seja apercebido surge um sentimento de melancolia constante que mais tarde descobriremos ser a depressão.

O tratamento dessa doença é muitas vezes ineficaz e acaba servindo apenas como uma droga que abstrai a pessoa da vida que queria tanto viver. Faz com que ela se perca entre o sono e a apatia. E leva suas forças, abandonando-a no sofá mais próximo impregnado com o aroma de cigarro ou bebida.

Ela fica presa em seu próprio mundo aguardando a morte, sem forças para lutar. Tudo o que lhe restara, o Valium – ou qualquer outro diazepínico a seu bel-prazer – levara junto com a insônia. Dinheiro, forças, prazer e amor: tudo se esvaiu em indolência. Talvez, por isso, esse seja o melhor tratamento. Evitar-lhe o suicídio pela incapacitação de se levantar.

Pode ser que alguns se curem, mas outros não terão a mesma sorte e perderão a vida - seja por se entregar a morte ou a existência. Um dia nos enjoaremos de buscar um tratamento que parece ser tão ineficaz. E desistiremos finalmente: não há cura, não há nada. Fomos enganados desde sempre. A cura não se encontra atrás dessa pílula estrangeira. A vida não é mais brilhante após a morte. E a felicidade não está após o mundo.

Deveria estar tudo aqui, fronte a nós. Mas não está ou estamos cegos demais para enxergarmos. Então, desejamos o difícil, o impossível e o que não podemos ter. O que não está ao nosso alcance tem que ser a felicidade. E de tanto procurar pelo inefável, perdemos a habilidade de aproveitar as coisas simples da vida, porque elas não possuem mais magia. Elas se tornaram tão patéticas quanto o reflexo no espelho.

Mas elas existem, patéticas ou solenes. Talvez grogues, perdidas em qualquer canto. Estão ali quer você queira ou não. Infelizes num mundo de felicidade ou perdidas num mundo de depressão.

Um comentário:

  1. Nunca li algo q representasse tao bem o q sinto...
    Lhe pergunto qual sera a cura???

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