terça-feira, 29 de novembro de 2011

Porque julgamos o tempo todo?

Quando começamos a estudar psicologia, uma das primeiras lições é que não devemos julgar nossos pacientes. Não nos cabe julgar se o que ele faz é certo ou errado, melhor ou pior, até porque nossos parâmetros podem ser completamente diferentes do deles. Para julgar, partimos da nossa realidade, da nossa criação, da nossa moral, e como isso tudo varia muito de pessoa pra pessoa, ninguém melhor do que o próprio paciente para ser juiz de sua vida.

Mas a realidade é outra. O habito de julgar está tão enraizado nas pessoas, que elas fazem isso o tempo todo. Em nenhum momento se para pensar que nossa realidade é única, portanto as outras pessoas podem ser completamente diferentes daquilo que passam ser. Então a gente julga o tempo todo: julgamos a gostosa que passa na rua porque ela está aparecendo demais; julgamos a religiosa porque ela é fanática demais; julgamos as feministas porque elas devem ser mulheres mal amadas; enfim, julgar se tornou uma coisa tão trivial e fácil, que a gente faz o tempo todo, sem perceber.
Julgar é fácil. A gente analisa a vida e as escolhas dos outros baseados na nossa história, nas nossas escolhas. Difícil é parar para tentar entender as escolhas dos outros baseados na história de vida deles. Se colocar no lugar do outro e tentar entender porque cada um escolhe o que fazer com sua vida, isso é complicado porque exige que nos retiremos do conforto da nossa vida para tentar entender outra realidade completamente diferente da nossa. É fácil achar semelhanças, difícil é lidar com as diferenças.
No fundo não aceitamos bem as diferenças, sejam elas enormes ou pequenos detalhes. É muito difícil tentar entender porque o diferente no outro mexe comigo, me ataca, me afronta, me retira do conforto do meu lugar. E esse é um dos objetivos da análise. Não estamos lá para julgar, estamos lá para tentar entender de onde partem as escolhas de um sujeito, por que e como aquilo o afeta diariamente. Mas o mesmo vale para o convívio em sociedade. Se as escolhas de uma pessoa me afrontam, me incomodam a ponto de eu sair apontando dedos e julgando, então está na hora de me perguntar o que em mim aquilo está afetando. É só quando voltamos o olhar para o nosso próprio umbigo que começamos a ser um pouco mais tolerantes, e um pouco mais abertos as diferenças. Quando a gente tem muita certeza e julga demais, estamos no caminho errado. Quando a gente começa a ter mais duvidas, quando começamos a ser mais ponderados, isso é um sinal de empatia.

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